Pepe é o melhor defesa-central português de todos os tempos e um dos mais brilhantes da história à escala planetária. No desporto-rei é fácil lavrar sentenças, deixo aqui a minha sobre o trajeto de Képler Laveran de Lima Ferreira, ciente de que estas deliberações nunca transitarão em julgado tal a subjetividade de juízos definitivos sobre qualquer forma de arte — e o futebol (também) é arte. Dois dias após Pepe ter anunciado o fim da carreira, o FC Porto recebeu o Gil Vicente (dia 10) e ao minuto 3 os azuis e brancos que enchiam o estádio levantaram-se e bateram palmas. Uma homenagem a um jogador que jogou com o 3 nas costas, mas sempre mostrou ter o espírito do mítico número 2 com tanto significado para os portistas. É neles que Pepe está obrigado a pensar quando André Villas-Boas se mostra disponível para criar as condições para o internacional português ser alvo do tributo que merece no Dragão. Não corro o risco de ser desmentido pelo próprio se escrever que Pepe apoiava Pinto da Costa nas eleições de 27 de abril, que, recordo, terminaram com goleada de 80,28% para AVB contra 19,52% para PC. Na tomada de posse dos novos órgãos sociais, Pepe, na qualidade de capitão, já com acordo público apalavrado para renovar ainda decorria a campanha, e Sérgio Conceição, à data treinador, não conseguiram estar presentes. Alguém acredita que se fosse PC o vencedor não arranjariam espaço em agenda (aparentemente) tão preenchida para marcarem presença em ato de tamanho simbolismo? Adiante. Os dois, entretanto, terminaram a ligação ao clube, por razões que AVB disse ter explicado de viva voz a ambos. Se ficaram mágoas ou questões por resolver não é problema dos adeptos, estes apenas querem dizer obrigado a Pepe — e igualmente a Sérgio Conceição, a maior parte deles, creio… — pelos serviços prestados. AVB afirmou que tentou contactá-lo para combinar cerimónia de homenagem, sem que Pepe tenha atendido ou devolvido a chamada ao presidente do FC Porto. E Pepe representou o FC Porto, não o FC Pinto da Costa — e, por vezes, como parece ser o caso, importa sublinhar o chamado óbvio ululante.
“Nós acompanhamos o seu desempenho através das estatísticas, que demonstram que o Cristiano foi bem gerido, bem utilizado. Tenho informação confidencial que comprova esta narrativa”, assim se referiu Roberto Martínez, em entrevista ao zerozero, à gestão de CR7 no recente Campeonato da Europa. Suspeito que essa “informação confidencial” no que concerne à utilização de Ronaldo frente à Geórgia — já com Portugal seguro no topo do grupo — aponte para os objetivos pessoais do capitão de faturar na prova e bater outro recorde. Como é que os treinadores costumam dizer? Ah, já sei: ‘Nenhum interesse individual está acima do coletivo’. Para o selecionador nacional, dependerá do interesse e do protagonista…
O ataque ganha jogos, a defesa ganha campeonatos. Talvez seja assim em muitas competições de várias modalidades, mas a ver o Sporting e o peso de Gyokeres na equipa fico com a ideia de que o futebol seniores masculinos em Portugal é exceção a essa velha máxima.