Paulinho deixou Portugal, pela primeira vez na carreira, este verão, aos 31 anos, e protagonizou uma transferência surpreendente para o campeonato mexicano. No Toluca, o avançado encontrou-se com o compatriota Renato Paiva, um verdadeiro fã do seu trabalho.
Em entrevista ao Desporto ao Minuto, o treinador português explicou, ao detalhe, como foi possível levar Paulinho para o Toluca e revelou, até, que o jogador já conhecia o seu modelo de jogo de outros tempos.
Em relação ao rápido impacto do ponta de lança na equipa, Paiva não tem dúvidas. Este só pode surpreender os mais desatentos.
Aqui, em Portugal, muito se tem falado do impacto rápido que o Paulinho teve no Toluca, por ser um jogador que, nos nove primeiros jogos, marcou logo cinco golos.
Eu acho que só pode ser considerado um impacto rápido por quem não conhece o Paulinho ao detalhe. Se tivermos curiosidade e formos ver o trajeto do Paulinho desde os escalões inferiores até à I Liga, ele esteve sempre a marcar golos. Esse é logo um fator que te indica a qualidade de um avançado. Jogando em equipas menos conceituadas, jogando em equipas médias ou jogando em equipas grandes, os seus números são sempre claros. Isto em questões de números. Depois, se fores aprofundar e ver o Paulinho em jogo, até na última época, sendo suplente, fez 21 golos no Sporting.
É um jogador que ainda tinha mais para dar ao futebol português?
Eu acho que algumas pessoas andam a dormir em Portugal, mas ainda bem, porque, assim que eu senti que havia uma hipótese, investi todas as minhas energias para que o Paulinho viesse, porque eu sabia que a forma como joga o Toluca vai muito ao encontro das características do Paulinho.
Sente que ele já se encontra na sua máxima força?
Não, ele não fez pré-época e ainda só está a 60% daquilo que pode fazer, continuo a dizer aqui às pessoas. Ele chegou ao Toluca e, passada uma semana, começou o campeonato. Nesse tempo, ele teve de se adaptar. Conhecendo as características do Paulinho dentro da área, fora da área, ofensivas e defensivas, este era um tiro certeiro. Tive sempre zero dúvidas e investi todas as minhas energias aqui junto da direção para o trazer. Aquilo que está a acontecer não me surpreende e sei que vai acontecer ainda mais.
Como é que surgiu esta ligação entre o Toluca e o Paulinho e como é que o Renato percebeu que esta transferência podia, de facto, vir a acontecer?
Nós precisávamos muito de um 9. Começámos a olhar para vários jogadores com esse perfil, inclusive em Portugal, e tentámos saber o que seria possível. Sabíamos que o Paulinho era suplente e sabíamos de algumas coisas sobre o facto de ele estar insatisfeito com essa situação, portanto, pensámos que poderia ser uma boa hipótese. Depois, quisemos perceber a abertura do jogador e foi aí que soubemos que ele queria sair para o estrangeiro e que tinha alguma intenção de sair do Sporting, então, a partir daí, foi investir tudo.
Nesse processo também falou diretamente com ele?
Falei, foi muito fácil convencer o Paulinho. O Paulinho conhecia o meu modelo de jogo dos tempos do Sporting de Braga, porque ele trabalhou com o Ricardo Horta e com o André Horta, que são quase minha família. Nessa altura, até se falou do meu nome para treinar o Sporting de Braga. Ele, a partir daí, começou a seguir os meus jogos, por influência dos Hortas, e o meu modelo de jogo agradava-lhe muito. O Toluca é um clube que luta por títulos, que está no estrangeiro, então, era só acertar as questões financeiras com o clube.
Podemos saber o que lhe disse?
Disse-lhe que ele ia ser protagonista, disse-lhe que ia marcar golos e que este campeonato tem muitas possibilidades de o fazer figura principal. A partir daí, foi super fácil, bastou ele chegar a acordo com o clube nas condições individuais e depois foi chegar a acordo entre os clubes. Foi feita uma chamada telefónica e ficou tudo acertado entre mim e ele.
Há esta componente do Paulinho ser um português que se junta ao Renato. Isso ajuda-o a si a sentir-se um pouco mais em casa?
Não, já estou fora há algum tempo e nunca tive jogadores portugueses nessas realidades. Tive, sim, equipas técnicas portuguesas. Era importante para mim que, pelo menos, a base fosse portuguesa, por causa das ideias, por causa da identificação, etc. Obviamente que conseguir trazer o Paulinho me deixa muito mais tranquilo, mas não fico tranquilo porque ele é português, fico tranquilo porque ele é muito bom jogador e sei o que ele nos pode dar.
Em sentido inverso, despediu-se do Maxi Araújo, que se transferiu para o Sporting. Acredita que este é um jogador que conseguirá ter impacto no futebol português?
Sem dúvida! É um titular indiscutível de uma das melhores seleções do mundo, hoje em dia, que é a seleção do Uruguai, que tem um treinador que se chama só Marcelo Bielsa e é ele que lhe dá essa titularidade.
Que características reconhece nele?
É um jogador que pode jogar mais à frente, como extremo-esquerdo, como joga na seleção, mas também pode jogar mais atrás no sistema do Rúben Amorim, com três centrais, onde o lateral é praticamente um extremo e faz esse corredor todo. Nós, no início, aqui, no Toluca, jogámos assim e era ele que fazia o corredor. Depois, em função daquilo que acontecia na seleção, pusemo-lo um bocadinho mais à frente, já a jogar como extremo. É um jogador que tem características individuais muito boas, é muito forte no um contra um, é muito vertical, é muito rápido… Não quer só ter a bola no pé, gosta de receber no espaço também. É um jogador que precisa de melhorar agora um bocadinho mais os conceitos táticos, porque, na Europa, são bem mais exigentes do que aqui.
E o que acha que ele terá de melhorar?
Precisa de melhorar na questão do jogo interior. Às vezes, por dentro, tem um bocadinho mais dificuldades. Eu acho que ele já leva daqui um empurrãozinho importante e, em Portugal, vai ter um treinador absolutamente extraordinário. Vai ter, para mim, o melhor treinador a trabalhar em Portugal. O Rúben Amorim é um treinador detalhista, que faz parecer os jogadores até melhores do que o que eles são pelo trabalho tático e pelo modelo de jogo, que também faz ajuda a exponenciar as características dos jogadores. O Maxi, mais para a frente e até por ser um jogador de seleção, vai dar rendimento financeiro ao Sporting. Não há como não pensar assim, nós somos um país vendedor e é assim que funciona. No imediato, o Maxi vai jogar para o melhor treinador que trabalha em Portugal e, para ele, vai ser absolutamente extraordinário e muito importante na sua adaptação ter um treinador como o Rúben Amorim.